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Êxodo: Narrativa de Libertação de Classe e da Luta Contra a Opressão Sistêmica

Publicada em: 23/09/2025 07:55 -

 

Capítulo 1: A Opressão Sistêmica do Regime de Direita Fascistoide

O novo Faraó, um nacionalista de extrema-direita, olha para o povo hebreu não com humanidade, mas como uma demografia. Ele vê seu crescimento populacional e sua força laboral não como uma bênção, mas como uma ameaça ao seu poder e à pureza étnica de seu projeto de nação. Seu discurso é baseado no medo: "Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós" (Ex 1:9). Este é o pavor clássico do opressor pela maioria oprimida.

A solução de Faraó é a clássica cartilha da direita capitalista exploratória:
1.  Exploração Laboral Extrema: "Estabeleçam sobre eles feitores de obras, para os oprimirem com cargas" (Ex 1:11). Imposição de uma jornada exaustiva de trabalho para gerar riqueza para a coroa, quebrando o espírito do povo através da fadiga.
2.  Genocídio Patrocinado pelo Estado: ordena às parteiras Sefrá e Puá que pratiquem o infanticídio seletivo contra os meninos hebreus. Quando as parteiras, movidas por uma ética superior à lei do tirano (a Desobediência Civil), se recusam, Faraó decreta à toda a população egípcia: "lançai ao rio todo menino que nascer" (Ex 1:22). Este é um estado que não hesita em usar a violência mais brutal para manter seu controle e "equilíbrio" demográfico.

Capítulos 2-4: A Conscientização de um Priviligiado e a Chamada para a Luta

Moisés, criado na corte de Faraó, usufruiu dos privilégios da classe dominante. Seu despertar para a consciência de classe começa quando testemunha a violência do Estado: ele vê um feitor egípcio espancando um escravo hebreu. Sua primeira ação é violenta e individual (matar o feitor), uma tática de resistência falha.

Ele foge, mas é interpelado por Deus não em um palácio, mas em uma terra comum, através de uma sarça ardente. A revelação divina é clara: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó" (Ex 3:6). Deus não se identifica como o Deus dos Faraós ou dos imperadores, mas o Deus dos Oprimidos, dos escravizados, dos marginalizados.

A missão de Deus é inequivocamente política: "Desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e espaçosa, a uma terra que mana leite e mel" (Ex 3:8). Iahweh é o Deus que desce para ver a opressão (Ex 3:7) e se coloca ao lado dos explorados para garantir não apenas liberdade espiritual, mas justiça territorial e redistributiva – uma terra onde todos possam prosperar.

Capítulos 5-11: A Luta de Classes e a Desestabilização do Sistema Opressor

Moisés e Arão confrontam Faraó não com um pedido, mas com uma exigência: "Deixa ir o meu povo" (Ex 5:1). A resposta de Faraó é a de um chefe de estado capitalista: intensifica a opressão. Retira a palha, mas mantém a cota de tijolos. O objetivo é claro: culpar os oprimidos pela sua própria opressão, dividi-los e fazê-los crer que a luta por direitos só piora sua situação. "Não dar-vos-eis palha! Ide vós mesmos, e tomai palha onde a achardes" (Ex 5:11).

As Pragas do Egito não são meros castigos mágicos. São um ataque sistemático à economia e à ideologia do regime opressor.
Pragas Ambientais (Sangue, Rãs, Piolhos, Moscas, Peste, Úlceras): demonstram que o modelo exploratório de Faraó é insustentável e destrói o próprio meio ambiente que sustenta seu império.
Praga dos Granizos e dos Gafanhotos: ataque direto aos meios de produção e à acumulação de capital da elite agrária.
Praga das Trevas: uma paralização total da economia produtiva. Um "apagão" sistêmico.
Morte dos Primogênitos: o golpe final na estrutura de herança e sucessão da classe dominante egípcia. É a quebra da perpetuação do sistema de poder.

Capítulo 12: A Páscoa – A Solidariedade de Classe e a Instrução para a Igualdade

A Instituição da Páscoa (Pessach) é um ritual de unidade e igualdade econômica.
O cordeiro deve ser compartilhado por famílias, segundo o que cada um pode comer. Se uma família for pequena demais, deve se unir à outra (Ex 12:4). Solidariedade comunitária contra a lógica individualista.
Devem comer "às pressas" (Ex 12:11), simbolizando a prontidão para a luta, a urgência da revolução.
O sangue na verga da porta não é um símbolo mágico, mas um ato público de identificação com o movimento de libertação. É uma marca que diz: "Nesta casa, estamos do lado dos oprimidos".

Capítulos 14-15: A Passagem do Mar Vermelho – A Vitória da Luta Organizada sobre a Máquina de Guerra Imperial

A passagem do Mar Vermelho é o ápice da narrativa. O exército de Faraó, a mais alta expressão de seu poder militar e policial, é lançado contra os escravos fugitivos. Deus não destrói o exército com um raio. Ele usa os elementos da natureza e a ação corajosa do povo (que avança pelo mar aberto) para afogar a cavalaria, os carros de guerra e a infantaria de elite do império.

O Cântico de Moisés (Êxodo 15) é o hino de vitória da Revolução. "Cantarei ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro" (Ex 15:1). É a celebração da derrota do aparato militar opressor.

Conclusão Teológica:

Êxodo não é uma história sobre liberdade religiosa individual. É um manifesto político-teológico que estabelece os fundamentos de uma fé comprometida com a justiça social. Ele nos ensina que:

1.  Deus tem um projeto político de libertação. Ele está visceralmente do lado dos escravizados, dos economicamente explorados e dos racialmente oprimidos.
2.  O Estado opressor (a "Direita" de Faraó) usa a exploração laboral, a desumanização, a violência policial e o genocídio para manter seu poder e privilégio.
3.  A libertação exige organização, confronto e desobediência civil. As parteiras, Moisés, Arão e todo o povo participam ativamente de sua própria libertação.
4.  A verdadeira espiritualidade é anticapitalista e antiopressão. A celebração religiosa (Páscoa) está intrinsecamente ligada à memória da luta de classes e à instrução de uma sociedade igualitária.

Portanto, abominar a "direita" faraônica – aquela que explora, oprime, segrega e mata para manter privilégios – não é uma posição política opcional; é um imperativo ético e teológico extraído do coração da narrativa do Êxodo. A luta pela terra que mana leite e mel – uma sociedade de justiça e igualdade – continua.

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