Ayrton Senna: O Piloto da Resistência e a Chama da Justiça Social
Publicada em: 10/03/2025 07:07 - Famosos
Por uma esquerda que acelera além das curvas do sistema
Ayrton Senna não foi apenas um piloto. Foi um revolucionário disfarçado de capacete. Nascido em 1960, no bairro de Santana, em São Paulo, Senna carregou desde cedo a marca de um Brasil desigual: filho de uma família abastada, mas com os pés fincados na realidade de um país onde milhões são condenados à invisibilidade antes mesmo de nascer. Sua genialidade ao volante não estava apenas na velocidade, mas na capacidade de enxergar o que outros ignoravam: os obstáculos invisíveis, as curvas ocultas pelo nevoeiro da injustiça.
Da pista ao povo: a rebeldia de um outsider
Enquanto o automobilismo era (e ainda é) um playground para herdeiros e elites, Senna transformou o cockpit em trincheira. Sua rivalidade com Alain Prost não foi apenas esportiva — foi uma metáfora da luta entre meritocracia e privilégio. Enquanto Prost representava a estratégia conservadora, a segurança dos pontos acumulados, Senna apostava na ousadia, na ultrapassagem no limite, mesmo que isso custasse colisões. "Se você quer vencer, às vezes precisa correr riscos calculados", dizia. Traduzindo: para mudar o jogo, é preciso desafiar as regras que protegem os poderosos.
Sua paixão pela velocidade era, em essência, uma recusa à estagnação. Num Brasil marcado por ditaduras, corrupção e desigualdade, Senna acelerava não por fuga, mas por urgência. Sabia que o tempo é um luxo para poucos: enquanto os ricos podiam pagar por segurança, os pobres morriam nas filas dos hospitais. "No Brasil, quando chove, só os ricos têm guarda-chuva", disse certa vez, revelando uma consciência aguda das estruturas opressoras que ele, mesmo no topo, nunca ignorou.
A esquerda que habita as retas impossíveis
Senna era um paradoxo: um homem de posses que escolheu vestir a camisa do povo. Criou a Senna Foundation não para lavar sua imagem, mas para investir em educação em comunidades carentes, entendendo que o verdadeiro legado não está em troféus, mas em oportunidades. "Não basta dar esmola; é preciso construir pontes", afirmou. Pontes entre classes, entre o asfalto da Fórmula 1 e o barro das periferias.
Sua morte em Ímola, em 1994, não foi um acidente. Foi um sacrifício político. Naquele 1º de maio — dia do trabalhador —, o sistema mostrou seus dentes: um carro que falha, uma curva que engole, um silêncio que ecoa até hoje. Senna partiu como viveu: na contramão do conformismo, desafiando limites que o mundo lhe impunha. Sua bandeira xadrez foi hasteada não no podium, mas nas ruas, onde multidões em luto entenderam que a luta por justiça não cabe em 300 km/h — requer marcha lenta, persistência, resistência.
Por que Senna é símbolo da esquerda que ainda não existe?
Porque ele provou que é possível ser radical sem ser dogmático. Que a coragem de questionar o status quo — seja nas pistas, seja na sociedade — é o único caminho para transformar o impossível em realidade. Sua espiritualidade não era passiva; era uma bússola para navegar no caos. "Deus me deu este dom, mas também me deu responsabilidade", disse. Responsabilidade de usar seu lugar de fala para acender luzes onde só havia sombras.
A esquerda precisa de ícones que não tenham medo de sujar as mãos. Senna, com sua determinação quase messiânica, ensina que a verdadeira revolução não está em slogans, mas em ações que desmontem os muros invisíveis. Seu legado é um chamado: não basta admirar o herói; é preciso ser a mudança que ele ousou sonhar.
"Se você quer ser bem-sucedido, precisa ter dedicação total. Aceitar o que você acredita e não desistir nunca, nunca, nunca."
— Ayrton Senna (1960–1994)
Senna Vive. E a esquerda que ele inspira não tem medo de derrapar para chegar lá.
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