Tocando Agora: ...

O Bolsonarismo: A Seita Verde-Amarelo que Devorou o Brasil

Publicada em: 13/11/2025 08:09 -

Uma anatomia do delírio coletivo e o antídoto

I. O Nascimento do Monstro Sagrado

Em 2013, enquanto o Brasil sangrava nas ruas com tarifas de ônibus e espíritos indignados, algo podre germinava nos porões digitais do País. Não foi uma ideologia que nasceu - foi um vírus que se fingiu de ideologia. O bolsonarismo não é de direita; é o que restou quando a direita morreu e foi reanimada com raiva industrializada.

A seita nasceu do casamento doentio entre quatro forças demoníacas: o ódio de classe que o PT nunca soube nomear, o medo branco que o Brasil negou por 500 anos, a fome evangélica por poder que resolveu comer o Estado, e o algoritmo do Facebook que descobriu que indignação vende mais que pornografia.

O primeiro milagre foi transformar um deputado medíocre - aquele que só aparecia para defender estuprador de quartel - em profeta. Não com discursos, mas com memes. Cada imagem de Bolsonaro segurando uma arma era uma comunhão digital onde o fiel consumia o próprio cérebro em forma de curtidas.

II. A Arquitetura do Delírio

A seita opera como um antigo culto de cargo misturado com conservadorismo brasileiro. Os membros não acreditam em Bolsonaro - eles acreditam através dele. Ele é o "profeta", o "messias", que permite o impossível: o pobre de favela se sentir milionário, o racista se sentir patriota, o ignorante se sentir cientista político.

O ritual é perfeito: primeiro, você é apresentado a um "inimigo comum" - seja comunista, gay, professor, cientista, ou os cientistas na pandemia. Depois, você recebe a "revelação" - uma mensagem de WhatsApp com um vídeo de 3 minutos onde um "especialista" (sempre um youtuber com 47 inscritos) desmente 500 anos de ciência. Por fim, o batismo digital: compartilhar em 10 grupos para "não deixar o Brasil virar Venezuela".

O genius do culto foi perceber que não precisa de teologia quando se tem algoritmo. O céu prometido não é pós-morte - é pós-curtida. Cada compartilhamento é uma indulgência que apaga o pecado de ter pensado por 0,3 segundos.

III. A Máquina de Moer Realidade

O bolsonarismo inventou uma tecnologia demoníaca: a realidade invertida. Onde a ciência existe, eles criam a "ciência deles". Onde há fato, há "nossa versão". Onde há morte, há "exagero da mídia". É como se o País tivesse sido invadido por um espelho mágico que mostra o oposto de tudo.

O truque psicológico é genial: eles transformaram a ignorância em virtude. "Não sou burro, sou puro". "Não sou ignorante, sou anti-sistema". O culto perfeito para um País que nunca educou adequadamente o povo - afinal, quando você ensina alguém a pensar, você perde o controle sobre o que ele pensa.

E aqui está o horror: eles não estão mentindo. Não no sentido tradicional. Eles estão criando uma realidade paralela onde os mortos de COVID não existem, onde a Amazônia não queima, onde o Brasil era "feliz e não sabia" durante a ditadura. É um sonho coletivo sustentado por 58 milhões de pessoas que preferem dormir acordadas a enfrentar o pesadelo de estar errado.

IV. O Desmascaramento: Como Matar um Deus que Nunca Existiu

Mas toda seita carrega o germe da própria destruição. O bolsonarismo é vulnerável porque é um culto de personalidade sem personalidade. Bolsonaro é um vazio que os fiéis preenchem com os próprios medos - e vazios não sustentam impérios.

Passo 1: Desmantelar o Espelho Mágico

O primeiro golpe não é político - é poético. Precisamos roubar deles a linguagem que usam para sonhar. Cada vez que disserem "mito", respondemos com "medo". Cada "patriota", respondemos com "parasita". Cada "Deus acima de tudo", respondemos com "medo acima de Deus". Porque é isso que eles são: uma geração inteira que descobriu que é mais fácil ter fé que ter esperança.

Passo 2: O Grande Desmascaramento

Organizar "intervenções de realidade". Não debates - autópsias. Levar bolsonaristas para ver com os próprios olhos: o corpo de quem morreu de COVID que "não existia", a favela que "não é tão ruim assim", o filho gay que "é apenas uma fase". A seita sobrevive porque é digital - precisamos torná-la carnal. Quando o delírio toca carne, ele sangra.

Passo 3: A Heresia Necessária

Criar uma contraseita. Não uma ideologia - uma antivida. Um movimento que funcione como vacina emocional: expõe os fiéis a doses homeopáticas da própria loucura até que desenvolvam anticorpos. Memes que mostram Bolsonaro cumprimentando Lula. Vídeos de "especialistas" bolsonaristas que provam que a Terra é plana. Forçá-los a ver o absurdo das próprias crenças até que o cérebro, em autodefesa, desenvolva o anticorpo do pensamento crítico.

Passo 4: O Suicídio Ritual do Culto

O golpe final não vem de fora - vem de dentro. Os próprios filhos do culto precisam matá-lo. E eles vão. Porque Bolsonaro é um pai que prometeu proteger e entregou os filhos para o vírus. É o marido que prometeu fidelidade e abraçou a corrupção que jurava combater. A seita morrerá quando os membros perceberem que o profeta é um espelho que só reflete a própria decepção.

V. O Brasil que Virá Depois

Quando o último grupo de WhatsApp bolsonarista cair em silêncio, não haverá vitória. Só haverá o vácuo que sempre existiu. O Brasil descobrirá que o bolsonarismo nunca foi o problema - era o sintoma de um País que escolheu o delírio coletivo como anestesia para uma dor que ninguém jamais ousou nomear.

A seita morrerá, mas o vazio que a criou permanecerá. E ali, nesse espaço entre o que acreditamos ser e o que realmente somos, talvez - só talvez - possamos finalmente começar a construir um Brasil que não precise de cultos para existir.

Porque no fim, o bolsonarismo foi apenas o Brasil sonhando que era EUA e acordando como Venezuela. Um pesadelo coletivo que nos lembrará, para sempre, que quando um País se recusa a enfrentar a própria sombra, ela acaba o devorando vivo.

E na madrugada em que o último bolsonarista finalmente despertar, ele não dirá "eu estava errado". Dirá o que todos nós dizemos quando saímos de um culto: "como pude acreditar naquilo?"

A resposta está escrita no espelho que todos nós evitamos: acreditamos porque era mais fácil que sentir. E agora, finalmente, começará o trabalho doloroso de reaprender a sentir sem precisar acreditar em nada.

Compartilhe:
Comentário enviado com sucesso!
Carregando...